Carregamentos elétricos são o novo negócio das marcas

| Revista ACP

Para muitos fabricantes marcas não basta vender o veículo, carregá-lo também é uma nova área estratégica de vendas.

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Os fabricantes de automóveis não só estão a gastar milhares de milhões de euros no desenvolvimento de veículos elétricos (VE) e na produção de células de bateria, como estão também a moldar ativamente as infraestruturas de carregamento. O financiamento de redes viáveis permite aos fabricantes manterem-se competitivos, abrindo oportunidades de negócio e aumentando a exposição da marca.

Desde que a Tesla lançou os primeiros supercarregadores em 2012, os fabricantes de automóveis juntaram-se a outras empresas - incluindo fornecedores de serviços públicos, gigantes petrolíferos, e startups - entrando em força no mercado de carregamento de VE. Algumas investiram diretamente em fornecedores de carregamentos, enquanto outras se associaram a parceiros na criação de novas redes.

O exemplo da Mercedes

A marca premium alemã está a planear um futuro totalmente elétrico a partir de 2030, pelo menos onde as condições do mercado o permitam ou o exijam. A oferta de veículos elétricos a baterias (VEs) em todos os seus segmentos constitui uma parte fundamental desta estratégia, e a partir de 2025 os clientes vão dispor sempre de uma alternativa totalmente elétrica, independentemente do modelo.

Mas ao mesmo tempo que aquele construtor de automóveis se prepara para fazer a transição para a eletricidade, também é notório que quer os consumidores a experimentar aquilo a que chama uma experiência de carregamento "best in class".

Isto vai exigir a instalação de parques de carregamento Mercedes-Benz, para além dos mais de um milhão de pontos de carregamento a que o serviço de carregamentos Mercedes Me já tem acesso em roaming.

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O fabricante de automóveis de luxo pretende lançar a sua própria rede de carregamentos ultra-rápidos em mercados-chave incluindo Europa, América do Norte e China. A empresa quer destacar-se no mercado dos elétricos, alegando que com uma rede própria conseguirá diferenciar a experiência de possuir um automóvel elétrico. A Mercedes-Benz quer construir 10 mil carregadores de alta potência em todo o mundo até 2030 - A Tesla opera atualmente cerca de 40 mil -, que poderá ser acedida por veículos de outras marcas. 

Mas este plano vai exigir um forte investimento. Será feito um investimento de mil milhões de euros na América do Norte, onde a empresa planeia construir 2.500 carregadores VE até 2027. No entanto, o fabricante não vai sozinho, criando parcerias com empresas como o fornecedor de energia renovável MN8 Energy e ChargePoint.

Apanhar o ritmo

As associações da indústria automóvel continuam a apelar aos governos para acelerarem o ritmo e construírem mais carregadores para os VE. Segundo a Associação Europeia de Construtores de Automóveis (ACEA na sua sigla francesa), a rede pública de carregamento precisa de mais 6,8 milhões de carregadores em toda a Europa para atingir os objetivos previstos até 2030, o que equivale a uma média de 14 mil novos postos de carga por semana.

Com apenas 12 anos para alterar radicalmente o panorama da mobilidade na Europa, agora que o Parlamento Europeu confirmou 2035 como o ano em que se deixam de vender automóveis com motores a combustão, muitos fabricantes de automóveis revelam alguma desconfiança nos esforços governamentais para estabelecer infraestruturas de carregamentos adequadas. E é por isso que muitos se associam agora aos fornecedores de equipamento de carregamento para realizarem os seus objetivos.

A Stellantis, que representa marcas como Peugeot, Citroën, Fiat, Alfa Romeo, DS, entre outras, está a colaborar com a TheF Charging para construir uma rede pública de carregamentos. Esta parceria centrar-se-á na construção de carregadores rápidos em cerca de 15 mil pontos em toda a Europa. O objetivo é claro: promover a mobilidade elétrica e otimizar a experiência do utilizador. A empresa já disse anteriormente que pretende ter 35 mil pontos de recarga rápida no local até 2030.

Entretanto, o Grupo Volkswagen (VW) quer instalar 25 mil pontos de carregamento de alta potência em todo o mundo até ao final de 2023, novamente com a ajuda de parceiros como a Ionity. Numa recente atualização, a empresa revelou já ter criado 15 mil carregadores rápidos a nível mundial, o que a coloca em terreno positivo para atingir o seu objetivo.

O 2º maior grupo automóvel do mundo está a centrar-se nos principais mercados e pretende expandir a sua rede de carregadores para 45 mil estações até 2025. Isto incluirá 18 mil estações de carregamento ultra rápido na Europa, 10 mil na América do Norte, e 17 mil na China.

"Consideramos o carregamento não só uma condição prévia para a mobilidade elétrica, mas também uma área de negócios estratégica de elevado potencial do futuro", revelou Thomas Schmall, membro do conselho de administração do Grupo VW para a tecnologia.

Aquele fabricante de automóveis transformou de facto a carga e a energia num negócio central. A sua gama de produtos abrange agora soluções de carregamento para clientes privados e empresas, incluindo a wall-box e estações de carregamento rápido da VW.

Liderar no Investimento

Os fabricantes de automóveis aperceberam-se da necessidade de avançar com o desenvolvimento das suas próprias redes de infraestrutura de carregamentos. Afinal de contas, uma rede de carregamentos que funcione bem é fundamental para vender um VE, e a lista de fabricantes de automóveis tradicionais que se estão a tornar mais ativos neste área está a crescer. A Volvo Cars está a colaborar com ChargePoint e a Starbucks para construir a primeira rede de carregamentos pública nas lojas da empresa de café dos EUA.

A BMW i Ventures confirmou recentemente um investimento no negócio de gestão de carregamento de VE, a Ampeco. Aquela empresa de capital de investimento é conhecida por investir em startups nas áreas de transporte, fabrico, cadeia de abastecimento, e sustentabilidade. A Ampeco cumpre todos aqueles requisitos, uma vez que esta startup permite às empresas gerir carregadores à escala. A BMW i Ventures explicou que à medida que as vendas de VE proliferam, o acesso à infraestrutura de carregamentos está a tornar-se mais crítico do que nunca.

Da mesma forma, a Porsche SE - uma holding com investimentos nas áreas da mobilidade e tecnologia industrial - também investiu milhões na ABB E-mobility Holding. A ABB já vendeu mais de um milhão de carregadores EV em mais de 85 mercados e tem a maior base instalada de carregadores rápidos.

Há ainda muito caminho a percorrer para tornar a infraestrutura europeia de carregamento de VE apta para a mobilidade com emissões zero. A questão de quem deve desenvolver e construir a infraestrutura de carregamento também continua a ser debatida. Mas parece que os fabricantes não querem deixar esta questão a cargo de forças externas ao setor automóvel e vão assumir o leme.

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