Já lá vão 30 anos, mas não dá para esquecer. Se uma aventura tem sempre contornos muito entusiasmantes, os primeiros quilómetros de uma prova que acabou por se tornar uma referência para o todo terreno mundial, acabam por ter um sabor muito especial.
E foi precisamente há 30 anos que Carlos Barbosa se sentou num Range Rover ao lado de Ernesto Neves para dar início a uma prova que viria a ter uma longa vida e muitas estórias para contar. E foi precisamente em 1987 que o atual Presidente do ACP se encontrou no Rali Maratona Portalegre Finicisa com Mário Martins da Silva, na altura ligado à direção da sucursal de Lisboa da Citröen, e hoje Presidente do ACP Motorsport. Neste caso, claro que o carro, só poderia ser um Citröen. Um Visa Chrono de autocross foi preparado para a grande aventura, que contou com Francisco Romãozinho ao volante e Mário Martins da Silva como navegador. Na altura, seria impensável prever que trinta anos depois Carlos Barbosa e Mário Martins da Silva desempenhassem funções de destaque no Automóvel Club de Portugal.
Hoje é precisamente o ACP que organiza a Baja Portalegre 500, prova pontuável para a Taça do Mundo FIA de Todo Terreno. É com orgulho que Carlos Barbosa lembra a sua estreia na prova.
“O primeiro Portalegre será sempre inesquecível. Transformar o Transportugal numa corrida teve um sabor especial para mim, para o Megre e para o Villas-Boas. Foi o início de uma aventura extraordinária que se transformou num sucesso incrível, que se deve precisamente ao José Megre e ao Pedro Villas-Boas. Nesse ano, o Rali Maratona Portalegre Finicisa contou com um prólogo de 7 km e um troço de 600 km. Eu e o Ernesto Neves participámos com um Range Rover quase de série, que contava apenas com um depósito suplementar de gasolina, uma caixa de velocidades mais curta e suspensão reforçada. Até tinha ar condicionado de série, imagine-se… A nossa prova durou até ao momento em que o Nené (Ernesto Neves) resolveu que não queria correr mais. Basicamente, trinta anos depois, a Baja Portalegre 500 é uma prova super profissionalizada, com cronometragem, percursos e condições de segurança segundo as regras FIA, tal como se exige numa Baja que faz parte da Taça do Mundo de Todo Terreno”.
E se Carlos Barbosa, como Presidente do ACP, se sente orgulhoso com a prova mais apreciada do calendário mundial da especialidade, também Mário Martins da Silva, responsável pela organização do evento, como Presidente do ACP Motorsport, revive com emoção a sua primeira participação em 1987.
“Nessa altura eu estava na sucursal de Lisboa da Citröen, com responsabilidade pelo departamento de competição. Tínhamos feito na altura um carro para autocross, um Visa Chrono com que o Rufino Fontes chegou a correr e, em conversa com o Francisco Romãozinho, decidimos ir a Portalegre, até pela proximidade que tínhamos com o José Megre. Preparámos o carro para uma prova daquele tipo, com colocação de entrada de ar no habitáculo e mais alguns pormenores, embora sabendo que, com um carro de duas rodas motrizes, não se pudessem esperar grandes milagres. No entanto, andámos a discutir os primeiros lugares da corrida, o que foi bastante interessante. No final dos primeiros 500 km descobrimos que o Visa tinha um apoio do motor partido. Depois da necessária reparação regressámos à corrida, mas fizemos apenas mais alguns quilómetros e acabámos por desistir. Trinta anos depois é sempre bom recordar esses tempos com saudade”.
Hoje a Baja Portalegre 500 é uma referência para o TT mundial. Ver crescer a prova acompanhando a sua evolução através de diversos prismas, é seguramente um privilégio para Carlos Barbosa e Martins da Silva que, 30 anos depois, regressam ao Alto Alentejo para testemunharem juntos o sucesso da sua Baja.