A introdução de portagens nas SCUT levou ao aumento da sinistralidade rodoviária e do número de feridos nos municípios abrangidos. Esta é a principal conclusão de um estudo revelado este mês, que mostra as consequências de uma medida política tomada no auge da crise económica e que visava o aumento de receitas para o Estado. Segundo este estudo, da autoria de Alfredo Marvão Pereira, Rui Marvão Pereira e João Pereira dos Santos, o objetivo falhou redondamente.
O aumento do número de acidentes foi de 4% e o aumento do número de feridos ligeiros foi de 3%, o que se traduz num acréscimo de 1193 feridos por ano. No estudo os investigadores não detetaram qualquer variação estatística relevante nos totais de feridos graves ou de mortos.
O aumento do número de acidentes foi de 4% e o aumento do número de feridos ligeiros foi de 3%
Este aumento no total de feridos leves naqueles 59 concelhos tem um custo para o País na ordem dos 30 milhões de euros anuais, o que representa em média 20% das receitas (sem IVA) geradas pelas portagens nas SCUT. Os cálculos são feitos com base num custo médio de 26 mil euros por cada ferido leve, em que são estimadas as perdas de produção, custos para as seguradoras, custos para entidades de segurança rodoviária, autoridades, tribunais, ambulância, hospitais, custos de propriedade e ainda custos sociais não-monetários.
Este aumento no total de feridos leves naqueles 59 concelhos tem um custo para o País na ordem dos 30 milhões de euros anuais
O método desta investigação passou pela comparação da sinistralidade nos 59 concelhos atravessados pelas ex-SCUT, com um período de análise entre 2008 e 2014, colocando frente-a-frente os totais de acidentes antes e depois da introdução das portagens face aos valores dos restantes 219 outros municípios para o mesmo período de tempo.
A decisão de introduzir portagens nas SCUTS (Sem Custos para os Utilizadores) teve dois momentos: a primeira fase foi em outubro de 2010, abrangendo os concelhos do Matosinhos, Valongo, Santa Maria da Feira, Espinho, Paços de Ferreira, Paredes, Lousada, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Esposende, Viana do Castelo, Caminha, Estarreja, Ovar e Vila Nova de Gaia.
Numa segunda fase, em dezembro de 2011, foi a vez de Lagos, Monchique, Portimão, Lagoa, Silves, Albufeira, Loulé, Faro, Olhão, Tavira, Castro Marim, Vila Real de Sto. António, Torres Novas, Entroncamento, Constância, Abrantes, Mação, Gavião, Vila Velha de Rodão, Vila Nova da Barquinha, Castelo Branco, Fundão, Belmonte, Covilhã, Guarda, Viseu, Castro Daire, Lamego, Peso da Régua, Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Chaves, Ílhavo, Aveiro, Albergaria-a-Velha, Sever do Vouga, Oliveira de Frades, Vouzela, Viseu, Mangualde, Fornos de Algodres, Celorico da Beira, Guarda, Pinhel e Almeida.