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O futuro do financiamento automóvel

| Revista ACP

Existem atualmente poucos negócios com consumidor direto que dependam da existência de uma industria financeira forte e eficiente como o comércio automóvel.

O modelo de financiamento automóvel baseado no financiamento ao consumidor que adquire o automóvel para uso individual será, num futuro próximo, sujeito a profundos desafios decorrentes, não só das novas tendências tecnológicas, tais como a incorporação de novas tecnologias até aos automóveis sem condutor, bem como as novas tendências sociais, tais como o incremento da mobilidade point-to-point (Uber, por exemplo) ou o uso partilhado de veículos.

Dependendo da evolução que se venha a verificar a nível tecnológico, sociológico e económico, poderemos conjeturar combinações dessas tendências, as quais que podem resultar num dos seguintes cenários: primeira, continuação do modelo atual de uso individual do veículo, havendo apenas a registar a incorporação de certos incrementos tecnológicos, como a condução assistida, mas mantendo-se ainda o condutor; segunda, uso individual de veículo sem condutor; terceira, uso partilhado de veículo ainda com condutor; e, quarta, uso partilhado de veículo sem condutor.

Parece-nos inegável que o futuro do automóvel não corresponderá apenas a uma destas quatro tendências, mas certamente a um mix das mesmas. Só não sabemos ainda o peso que cada uma virá a assumir no futuro.

Assim, o modelo de financiamento atual baseado principalmente no financiamento individual a consumidores pela banca generalista ou pelas financeiras associadas a marcas irá, necessariamente, alterar-se.

Caso a tendência para o uso individual do automóvel se mantenha, as necessidades de financiamento deste segmento de mercado aumentarão tanto mais quanto maior for a incorporação de tecnologia nos veículos até atingir o máximo potencial caso se generalize o uso individual de automóvel sem condutor, dados os custos associados ao mesmo. Quanto maior proporção assumir o uso partilhado de veículos, menores serão as necessidades de financiamento da indústria, atenuadas, porém, em caso de generalização dos veículos sem condutor. Num cenário de aumento de mobilidade partilhada é expectável que a propriedade dos automóveis seja detida por empresas gestoras plataformas de partilha dos mesmos.

Decerto que continuarão a existir os tradicionais empréstimos automóveis a clientes individuais, mas, a generalização do modelo de partilha automóvel, caso venha a acontecer, irá necessariamente alterar o modelo atual de business-to-consumer para business-to-business, significando menores margens financieiras, dada a maior sofisticação dos mutuários empresariais, menor número de vendas e valores residuais dos veículos mais baixos. Significará também o desenvolvimento de novas ferramentas de avaliação do risco de crédito, operacional e de deterioração do valor comercial do veículo ao longo do tempo.

Além disso, os respetivos empréstimos e leasings continuarão a ter que ser originados e cedidos para efeitos de geração de nova capacidade de financiamento. A este respeito a indústria da titularização de créditos automóveis, largamente baseada no financiamento individual, poderá ter de adaptar-se ao modelo comercial-backed, tendo de desenvolver as correspondentes ferramentas de avaliação e estruturação dessas operações, à semelhança do que já faz para o segmento imobiliário.

Num futuro em que a mobilidade partilhada pode vir a ganhar um peso significativo as instituições financeiras que já se dedicam ao financiamento de frotas parecem levar a vantagem, mas o futuro dos players atuais passa certamente por uma reavaliação do modelo de negócio, bem como um maior investimento no segmento empresarial e em recursos comerciais adequados ao respetivo paradigma social.

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