Colocar componentes errados, ou incompletos, numa linha de montagem pode não parecer normal, mas é a tarefa diárida de Xabier Garciandia. Isso mesmo! A responsabilidade de Garciandia é, precisamente, colocar pedras na engrenagem de uma das mais avançadas fábricas de automóveis do mundo, a unidade de produção da Ford em Valência, garantindo, assim, que peças erradas e componentes defeituosos sejam secretamente introduzidos na linha de montagem.
Mas em vez de estar ao serviço de rivais sem escrúpulos, Xabier é, na verdade, uma peça chave do processo que assegura que todos os veículos novos construídos naquela unidade fabril cumprem os rigorosos padrões de qualidade da Ford.
O “Vision System” da Ford, tecnologia que constitui uma estreia mundial na indústria automóvel, fotografa, verifica e localiza todas as peças dos 400.000 automóveis e furgões que ali são montados, bem como as necessárias à produção dos 330.000 motores que anualmente saem de Valência. Os denominados “Gremlin Tests” são uma forma inovadora de garantir que o novo processo está a funcionar corretamente.
Nas palavras do próprio Garciandia, Técnico Especializado da Ford Europa do “Vision System” da área de motores de Valência, “o ‘Vision System’ é fundamental para garantir que todas as peças de cada veículo são realmente as peças certas.” Segundo o mesmo, “o ‘Gremlin Test’ permite garantir, com certeza absoluta, de que o sistema está a funcionar na perfeição. É um processo com uma finalidade muito importante. Os membros das equipas ficam muito entusiasmados quando encontram uma das nossas peças e estamos cada vez mais a dificultar a identificação dessas peças.”
Nesta unidade da Ford, onde são produzidos os Kuga e Kuga Vignale, Mondeo e Mondeo Vignale, Galaxy, S-MAX, Transit Connect e Tourneo Connect, e também os motores Ford EcoBoost de 2,0 e 2,3 litros, o “Vision System” capta mais de 1.000 milhões de fotografias a cada 14 dias. Imagens estas que resultam depois numa imagem composta, formada por 3.150 fotografias digitais, capaz de assinalar quaisquer discrepâncias aos engenheiros da fábrica.
Em Valência e até à data, foram enviados para a linha de montagem peças de motores defeituosas, volantes errados e mesmo alguns incorrectos, estando os “Gremlin Tests” agora activos em todas as 34 áreas de montagem. A Ford está mesmo a considerar alargar este sistema às suas fábricas de todo o mundo.
Como sublinha Garciandia, “o facto de todos usarmos máquinas fotográficas digitais alterou por completo a forma como registamos o nosso dia-a-dia, estando, agora, a transformar a forma como produzimos motores e carros”, para concluir que “também é preciso testar os próprios testes, algo que estamos a fazer de uma forma muito simples, mas que julgamos ser única e totalmente original na indústria automóvel.”