ACP-BP

Pub

China quer acordo sobre investigação da UE aos seus elétricos

| Revista ACP

No início de junho a União Europeia deverá anunciar as sanções aos veículos produzidos na China e que beneficiam de subsídios estatais. 

A esperada decisão da Comissão Europeia de aumentar os direitos aduaneiros sobre os veículos eléctricos chineses deverá dar início a uma ronda de conversações, noticiou a Reuters. A esperança da China é que essas negociações atenuem o golpe para a maior indústria de veículos eléctricos do mundo.

As tarifas provisórias, que deverão ser anunciadas até 5 de junho, vão ser um choque para os fabricantes chineses de automóveis eléctricos, representando milhares de milhões de euros em novos custos. Mas tanto a Europa como a China têm razões para querer chegar a acordo.

A indústria de veículos eléctricos da China precisa de exportações rentáveis na terceira maior economia do mundo de forma a contrariar a queda das margens dos fabricantes chineses. Isto ao mesmo tempo que os fabricantes de automóveis alemães querem manter acesso ao mercado automóvel chinês, que já constitui para muitos o principal mercado, mas também acesso às parcerias para reduzir os custos no desenvolvimento e produção de veículos elétricos.

Cada 10% adicional em tarifas a impor pela União Europeia, para além da atual taxa de 10% existente, vai custar aos exportadores de veículos eléctricos da China cerca de mil milhões de euros, com base nos dados comerciais de 2023, divulgou aquela agência noticiosa. Esse custo aumentará este ano, à medida que os fabricantes chineses de EV expandirem as exportações para a Europa.

As anteriores investigações da UE sobre as subvenções às importações de outros produtos provenientes da China, como os painéis solares, resultaram em direitos adicionais que variam entre 9% e 26% para as empresas que cooperam com a investigação. Os analistas prevêem que os direitos aduaneiros sobre os veículos eléctricos se situem, em termos gerais, nesse intervalo. Os direitos seriam impostos a partir do início de julho, mas poderiam ser aplicados retroativamente aos três meses anteriores.

A China assinalou que está a preparar alternativas para a negociação que se avizinha. Os direitos provisórios da UE poderão ser contestados ou mesmo suprimidos se um número suficientemente elevado de governos da UE se opuser ao fim de quatro meses.

A Câmara de Comércio da China para a UE, um grupo comercial, afirmou na semana passada que Pequim estava a considerar a possibilidade de aumentar para 25% os direitos aduaneiros sobre as importações de automóveis com motores de grandes dimensões. A China também lançou a ideia de baixar os direitos aduaneiros sobre as importações de automóveis da UE de 15% para 10%, segundo fontes da Reuters.

A Comissão Europeia solicitou informações à BYD, SAIC  e Geely, mas estas empresas não forneceram informações suficientes em resposta à investigação de subsídios, o que poderá abrir caminho a tarifas mais elevadas para essas empresas, servindo de referência para fixar taxas para o resto da indústria na China.

A decisão europeia chega algumas semanas depois de os Estados Unidos terem quadruplicado as tarifas sobre os veículos eléctricos chineses para 100%.

Guerras Comerciais

Os fabricantes europeus de automóveis associaram-se aos novos fabricantes chineses de veículos eléctricos para desenvolver um comércio mais rápido e barato. Em abril, a Volkswagen e a BMW prometeram mais de 5 mil milhões de euros para expandir a investigação e a produção na China. Em 2023, quase 29% dos automóveis fabricados pelos fabricantes alemães foram vendidos na China, segundo dados comerciais.

A Europa é o mercado externo mais importante para os fabricantes chineses de veículos eléctricos. Com a forte concorrência a espremer as margens de lucro na China, os fabricantes de veículos eléctricos, como a BYD, podem vender carros na Europa por mais do dobro do preço da China. Isto deixa alguma margem para absorver tarifas adicionais, dizem os analistas.

Os fabricantes e fornecedores chineses de veículos eléctricos estão também a investir na Europa. A Xpeng entrou no mercado francês este mês. Na abertura do showroom da Nio em Amesterdão, na semana passada, o fundador William Li disse que o fabricante chinês de veículos eléctricos iria avançar na Europa.

A BYD está a construir uma fábrica de veículos eléctricos na Hungria e está de olho numa segunda fábrica europeia. A Chery Auto, o maior fabricante de automóveis da China em volume de exportações, está a estabelecer uma parceria com a EV Motors de Espanha para abrir a sua primeira fábrica europeia na Catalunha.

A empresa pública SAIC, o segundo maior exportador de automóveis da China, está à procura da sua primeira fábrica na Europa. A CATL, o maior fabricante de baterias do mundo, aumentou a sua produção na Europa. Outros fornecedores chineses de baterias estão a ajudar a França a construir o seu “vale das baterias”.

Newsletter Revista
Receba as novidades do mundo automóvel e do universo ACP.

O chanceler alemão Olaf Scholz afirmou, numa visita à China em abril, que seria melhor para os europeus pressionar a China a reduzir as tarifas de importação de automóveis do que iniciar uma disputa comercial.

Na comitiva de Scholz na China estavam os CEO da Mercedes-Benz e BMW, que também manifestaram a sua oposição às barreiras comerciais com a China, ao mesmo tempo que afirmavam conseguir lidar com a concorrência chinesa.

Uma joint venture entre a Stellantis e a Leapmotor - na qual o grupo franco-italiano fica responsável por vender os modelos do fabricante chinês no exterior - mostra como o setor automóvel europeu podem encarar a China como uma ameaça ou uma oportunidade.

O diretor executivo da Stellantis, Carlos Tavares, que antes de estabelecer uma parceria com a Leapmotor apelou à aplicação de tarifas mais elevadas aos veículos eléctricos chineses, afirmou este mês que as tarifas eram “uma grande armadilha”.

“Vamos tentar ser nós próprios chineses”, disse Tavares em Munique. “Em vez de sermos puramente defensivos em relação à ofensiva chinesa, queremos fazer parte da ofensiva chinesa”.

scroll up