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As mentes por detrás dos veículos autónomos

| Revista ACP

Projetar o veículo autónomo do futuro implica reunir os melhores talentos técnicos disponíveis: engenheiros mecânicos e de software, peritos em inteligência artificial e tecnologia de sensores, cientistas informáticos, especialistas em produção, mas não só...

Mas um profissional que provavelmente não esperaria ver na mesa de projetos – o antropologista – está a desempenhar papel fundamental no desenvolvimento do veículo autónomo de próxima geração da Nissan, analisando as interações da condução humana para garantir que esse veículo estará preparado para ser um "bom cidadão" na estrada.

"A tecnologia automóvel continua a evoluir e a mudar", declarou Melissa Cefkin, cientista principal e antropologista do Centro de Investigação da Nissan em Silicon Valley. "E agora… estamos a acrescentar esta dimensão autónoma… que irá resultar em mais mudanças para a sociedade, incluindo a forma como interagimos e nos comportamos diariamente na estrada".

Cefkin é uma antropologista empresarial e de design, especializada em etnografia, que consiste no estudo sistemático de povos e culturas a partir do ponto de vista do sujeito, para quem os veículos autónomos significam adotar uma nova visão sobre a forma como os humanos interagem com "um objeto imensamente e profundamente cultural"?—? o automóvel? — e adquirir outras perspetivas sobre como as novas tecnologias podem interpretar, ou atuar sobre, esses comportamentos.

Cefkin e os outros membros da equipa estão concentrados no terceiro pilar do programa ProPILOT de veículos autónomos da Nissan: desenvolvimento da capacidade do veículo circular pela cidade e pelos cruzamentos sem a intervenção do condutor.

Quando Melissa se juntou à Nissan em 2015, após ter desempenhado diversos cargos na IBM, na Sapient Corp. e no influente Instituto de Investigação para a Aprendizagem de Silicon Valley, ela e a sua equipa começaram a documentar, não apenas as interações na cidade envolvendo os condutores, mas também as interações entre veículos e peões e ciclistas, bem como outras características da estrada.

"Estamos a tentar apurar o nosso trabalho, aprendendo algumas lições-chave sobre aquilo que um veículo autónomo terá de saber: o que perceciona do mundo em seu redor e como este pode fazer sentido, para poder tomar decisões e comportar-se de forma a ser capaz de interagir eficazmente nesses vários sistemas", afirmou.

Um dos grandes problemas e maiores desafios são os cruzamentos de quatro vias com sinais de Stop. "O que acontece num cruzamento com quatro vias dá azo a várias interpretações", explicou. "Sim, é suposto parar, mas depois de parar nada me diz quando devo avançar novamente e cabe-me a mim decidir".

As primeiras análises levadas a cabo revelam que condutores, peões e ciclistas usam o contacto visual e outras formas de comunicação direta para demonstrarem o que pretendem fazer nessas situações.

Esta informação que permitiu já desenvolver soluções sobre como um veículo autónomo poderá comunicar o seu próximo movimento, sendo que uma dessas visões foi apresentada no Nissan IDS Concept. Cefkin referiu que algumas funcionalidades representadas no vídeo do Nissan IDS poderão acabar por ser bastante semelhantes às dos veículos autónomos da Nissan na próxima década?, ?como uma luz que "reconhece" a presença de um peão.

A equipa está também a explorar como comunicar a intenção do automóvel nas situações em que estão presentes "vários agentes", como vários peões ou ciclistas. A chave está em como comunicar a esses agentes aquilo que o veículo vai fazer, como “parar, esperar, dar passagem, prestes a arrancar, avançar, etc.", de uma forma que seja interpretada da mesma maneira por todos eles, em todas as partes do mundo.

Melissa Cefkin explica ainda que estes estudos demonstram a mais-valia de ter antropologistas envolvidos nas fases iniciais de projeção do veículo, ao invés de fazer ajustes mais tarde, no ciclo de produto, tal como outros fabricantes automóveis já fizeram.

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