No final de junho, os preços do gasóleo e da gasolina aumentaram significativamente. A primeira semana de julho trouxe uma descida, mas os valores não reverteram o aumento anterior. Esta semana há nova descida de preços, mas só para a gasolina. O cenário geopolítico no Médio Oriente está na origem da recente oscilação.
Para esclarecer as razões das recentes variações de preços e analisar se devemos esperar agravamentos nas próximas semanas, conversámos com o economista João Duque, presidente do ISEG, e com o presidente da Associação de Empresas de Combustíveis e Lubrificantes (EPCOL).
Sabe como são formados os preços dos combustíveis em Portugal?
Primeiro, é preciso compreender que, desde a extração do crude (petróleo não refinado) até ao depósito dos nossos veículos, cada gota passa por várias etapas até se tornar combustível. E nesse processo também o preço sofre alterações até chegarmos aos valores que pagamos pela gasolina ou gasóleo.
Como Portugal não produz petróleo, o país está dependente da importação da matéria-prima, que é transformada nas refinarias em combustíveis.
Ora, apenas EUA, a Arábia Saudita, a Rússia, o Canadá, o Iraque, a China, os Emirados Árabes Unidos, o Brasil, o Irão e o Koweit, são os principais produtores de petróleo. Estes 13 países constituem a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que vai controlando o volume da produção mundial, influenciando o preço da matéria-prima nos mercados internacionais.
Na negociação da matéria-prima, há dois índices de referência - o Brent e o West Texas Intermediate (WTI). É a cotação dos dois índices que vai orientando os preços da comercialização do crude. O Brent, que é negociado na bolsa de Londres, serve de referência para Portugal e visa os barris de petróleo com origem no Mar do Norte.
A cotação do barril de Brent tem impacto custo final dos combustíveis. Mas não só.
A cotação do crude é fixada em dólares. Logo, se o dólar valoriza face ao euro, significa que para comprar a mesma quantidade de crude é necessário gastar mais euros, o que terá reflexo no cálculo do preço final dos combustíveis. Da mesma forma, quando se verifica uma valorização do euro em relação ao dólar, pode ocorrer uma redução dos preços nos postos de abastecimento.
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Só que o cálculo fica mais complexo. Porquê?
Depois de refinados, a gasolina e o gasóleo que são produtos derivados do petróleo - ou seja, são petróleo transformado nas refinarias - têm a sua própria cotação. Por essa razão, em Portugal, o preço final dos combustíveis pode não seguir sempre a cotação do Brent.
Nesta estruturação do preço dos produtos refinados há influência das tensões geopolíticas, sobretudo no Médio Oriente. Quando se verifica ou uma escalada das tensões ou guerras, é frequente ocorrer uma redução da oferta de produtos refinados. Isso contribui para o agravamento do preço final dos combustíveis nos postos de abastecimento.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, o cenário de guerra entre Israel e o Irão, a revolta dos houthis no Iémen, que condiciona os acessos ao Mar Vermelho (Cerca de 15% do transporte marítimo de mercadorias passa pelo Canal do Suez), bem como o escalar das hostilidades entre o Irão e os EUA, com o Estreito de Ormuz em foco (liga Omã ao Irão e é onde passa cerca de 20% do petróleo mundial), têm gerado em períodos diferentes maior volatilidade das cotações e dos preços.
Acrescem os custos do transporte (designado por frete) desde os poços às refinarias e, posteriormente, para os destinos finais. Podem representar até 30% do preço final cobrado aos consumidores, pelo armazenamento e pela distribuição dos combustíveis;
Na equação dos combustíveis há mais variáveis, além dos mercados internacionais.
Os preços praticados nas bombas de gasolina são impactados também pela incorporação de biocombustível, que é obrigatória na União Europeia e provoca uma subida dos preços. A percentagem de incorporação é determinada anualmente pelo Estado, de acordo com as metas europeias.
E há a carga fiscal
Após as cotações nos mercados bolsistas, as taxas cambiais, os custos logísticos, a incorporação de biocombustíveis, há a influência da carga fiscal.
É importante saber que, em Portugal, a carga fiscal da gasolina e do gasóleo incluem o Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) e o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). Esta carga pode ser bastante acentuada e contribuir para preços elevados a pagar pelo consumidor, considerando que o IVA, sendo uma percentagem aplicada sobre todas as restantes componentes do preço, incluindo o próprio ISP, representa um valor mais elevado quando o preço do produto aumenta.
De acordo com a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), no final do primeiro trimestre de 2025, o preço médio da gasolina ascendia a 1,746 euros por litro. Deste valor, 55,1% corresponde a impostos, num nível acima da média europeia (53,8%) e acima do praticado em Espanha (47,8%).
Estes fatores podem explicar também por que motivo o preço final que pagamos nas bombas nem sempre parece estar alinhado com o sobe e desce dos mercados internacionais.