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Carlos Tavares contra a "autofobia" na Europa

| Revista ACP

Gestores da Stellantis e da Renault criticam os decisores europeus pelo ritmo imposto para transição elétrica.  

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O pretexto foi a proximidade da abertura do Salão Automóvel de Paris e o objetivo foi conseguido: uma entrevista conjunta do jornal Le Parisen aos dois principais gestores da produção e venda de carros em França tinha tudo para ser polémica. E foi.  

Luca De Meo, CEO do Grupo Renault (que reúne também Dacia e Alpine), e Carlos Tavares, CEO da Stellantis (que reune 16 marcas incluindo Peugeot, Citroën, DS, Fiat, Alfa Romeo e Jeep), criticaram a "autofobia" que se vive em França e na Europa e sugeram a criação de um fórum sobre a liberdade de circulação.

"Porque é que há tantos franceses que amam os seus carros num país que é fundamentalmente autofóbico?", disparou Carlos Tavares, apontando a mira aos decisores franceses que alinharam na transição para a mobilidade elétrica impulsionada pela União Europeia.

Tavares considerou que soluções como os híbridos, hidrogénio e o desenvolvimento de combustíveis alternativos estão a ser postos de lado, pois apenas estão a ser levadas em conta as emissões à saída do tubo de escape e não aquelas que são emitidas ao longo de todo o ciclo de produção. Ambos os gestores estão preocupados com o facto de a porta estar a ser fechada a mais inovações, e de a porta se estar a abrir a mais problemas.

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Luca De Meo juntou-se nas críticas, relembrando o tempo em que trabalhou na Alemanha, "na Volkswagen e Audi, onde se verifica orgulho na indústria automóvel, que não existe em França", disse o gestor da Renault.

Durante a discussão, Carlos Tavares salientou que os impostos sobre os combustíveis trazem muito dinheiro para o Estado: 450 mil milhões de euros. "O que vai acontecer quando for feita a transição para veículos eléctricos? Os impostos sobre a electricidade serão provavelmente direccionados para compensar a perda", arriscou o líder português.

Já Luca de Meo desenvolveu outro ponto: o novo carro eléctrico destina-se principalmente aos privilegiados, que muitas vezes têm uma garagem e um ponto de carregamento em casa.

Face à autofobia em França e na Europa, um fórum de "liberdade de movimento

Os dois patrões também defenderam a liberdade de movimento. É por esta razão que poderia ser criado um fórum sobre o assunto. "Estamos aqui para propor soluções", continuou Carlos Tavares, "na condição de que a sociedade aceite que a liberdade de movimento individual, familiar e profissional continue a ser uma parte fundamental do nosso estilo de vida".

"Para que este assunto possa ser discutido, vamos criar um fórum para a liberdade de movimento", revelou. E Luca de Meo ofereceu-se para participar. O chefe da Stellantis aceitou: "Claro que estão convidados!"

Ambos temem uma divisão social com o aparecimento de veículos eléctricos. Estes são caros, o que significa que "a classe média não poderá aceder a eles, e teremos um problema de estabilidade social", de acordo com Tavares. Hoje em dia, as pessoas privilegiadas que têm os meios (...) podem comprar veículos eléctricos", disse Luca De Meo. É politicamente incorrecto dizê-lo dessa forma".

Outro aspeto abordado foi o da condução autónoma.

Luca de Meo, da Renault, não acredita realmente na condução totalmente autónoma (nível 5). Em primeiro lugar, "há o aspecto regulamentar, mas também a ética do algoritmo e a responsabilidade em caso de acidente". De Meo resumiu os seus receios: "estamos a trabalhar no carro autónomo, mas não quero ser o primeiro fabricante a colocar um no mercado".

A questão também se coloca quanto ao público-alvo destes veículos. Embora os táxis autónomos possam poupar às empresas muito dinheiro em salários, não parece haver uma saída para os particulares.

Carlos Tavares considera que a condução autónoma de nível 3 estará disponível nos veículos do grupo Stellantis dentro de 2 a 3 anos. Junta-se a Luca de Meo nas considerações para os níveis 4 e 5, que vão destinar-se mais a frotas de empresas do que a particulares.

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