Os clássicos e o passar de gerações

| Revista ACP

Chegamos sempre a uma verdade incontornável, o passar dos anos reflete-se mais nos proprietários do que nos automóveis.

LUÍS CUNHA

O tempo vai passando e o gosto pelos clássicos vai mostrando novas formas. Quando o vício dos clássicos tomou conta da minha vida nos idos anos oitenta, estavam no auge os automóveis dos anos vinte e trinta. Nas provas de regularidade que se organizavam na época, a maioria dos automóveis eram de fabrico anterior à guerra. Eventos de maior notoriedade como o Raid Lisboa Pedras D´El Rei estavam repletos de automóveis antigos da categoria vintage.

Hoje, passados 30 anos, nos eventos que o ACP Clássicos organiza a grande maioria dos clássicos vão dos anos 60 aos anos 80. Para constatar isto, basta ver a lista de inscritos no Passeio dos Ingleses que organizámos no fim de Janeiro. Dos 202 automóveis inscritos o mais antigo foi um Riley RM de 1948.

No Centenário do Raid Figueira da Foz- Lisboa em Outubro de 2002 tivemos o número mágico de 70 inscritos com viaturas construídas até 1930. Nos anos mais recentes esse número diminuiu drasticamente.

Por muitas voltas que possamos dar, chegamos sempre a uma verdade incontornável, o passar dos anos reflete-se mais nos proprietários do que nos automóveis.

Por uma razão ou por outra, somos invariavelmente atraídos por carros da nossa juventude, ou porque o nosso pai teve um determinado modelo, ou porque aprendemos a conduzir num outro, ou até pela recordação da nossa miniatura preferida. Todas estas razões são suficientemente fortes para nos fazer voltar décadas depois a um lugar onde já fomos felizes.

Por isso, quando alguns estranham hoje a ausência de clássicos dos anos vinte e trinta nas nossas estradas, não é difícil perceber que os jovens os viam passar estão agora a chegar aos 90 anos de idade.

Os tempos mudaram e nós no ACP Clássicos temos tentado acompanhar os novos tempos. Hoje, para um jovem de 25 ou 30 anos um “automóvel antigo” é um belo VW Golf GTI de 1982 ou um Lancia Delta Integralle de 1991. Ficamos satisfeitos que comecem por aqui, para que um dia mais tarde olhem com curiosidade para o Ford A de 1929 que o avô mantém cuidadosamente na garagem e percebam que a razão de ser de um automóvel de qualquer época é ser usado na estrada.

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