O secretário de Estado da Mobilidade Urbana reconheceu esta quarta-feira que a necessária transição do carro para os transportes públicos só acontecerá quando houver alternativa, mas antecipa que os resultados do investimento feito serão visíveis já no próximo ano.
“Por muito que se propale que temos de mudar, isso vai acontecer quando as pessoas tiverem realmente uma alternativa”, disse Jorge Delgado, admitindo que ainda existe uma carência nos transportes públicos.
O secretário de Estado está no Dubai, Emirados Árabes Unidos, a participar na 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), que esta quarta-feira se dedica à ação local, urbanização e transportes.
Numa sessão sobre transportes sustentáveis, promovida pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) que apresentou um conjunto de recomendações ao setor, Jorge Delgado argumentou que “o motivo para ainda não termos uma mudança real é não termos alternativas reais”, mas esse é também um processo demorado.
“Temos, desde 2016, no terreno cerca de 4,6 mil milhões de euros de investimento na área dos transportes e uma parte significativa, cerca de dois terços, é em infraestruturas”, antecipando que “ao fim deste tempo todo”, a partir de 2024, os resultados desse investimento estarão finamente concretizados.
Para o secretário de Estado, esse é um dos vários elementos necessários à transição nos transportes, mas porque demora tanto tempo, não é possível esperar pela sua concretização para pôr outras medidas em marcha, por exemplo, incentivos ao cada vez menor recurso ao carro. “Nada é cedo. Tudo aquilo que tem de ser fazer nos transportes vem tarde. Algumas coisas demoram tempo a concretizar, mas as decisões têm de se tomar e as soluções têm de começar a aparecer”, considerou.
Outro incentivo está relacionado com o custo dos transportes públicos e, no entender do secretário de Estado, Portugal já deu passos significativos no sentido de tornar os passes acessíveis. Mas, insiste: “O passe ser barato não é sinónimo de que o vou usar”.
Por outro lado, a transição pode passar também pela mobilidade ativa e, nesse aspeto, Jorge Delgado reconhece que, nas últimas décadas, “o carro invadiu as cidades”, tornando-as pouco confortáveis para andar a pé ou de bicicleta.
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“Temos que recuperar o histórico que já tivemos. Transporte público complementado com mobilidade ativa, com preços acessíveis, com a possibilidade de integrarmos outros modos (como táxis ou sistemas de boleias). Este é o ecossistema que tem de funcionar de forma clara e muito organizada”, defendeu.
Na sessão organizada pela AMT, participou também a diretora-geral da Mobilidade e dos Transportes da Comissão Europeia, que considerou que uma das principais dificuldades na política dos transportes é perceber até onde é possível ir antes que se torne um desafio para as pessoas.
Ainda assim, a transição dos transportes “não pode parar” e, por isso, Magda Kopczynska considerou que uma das prioridades passa por reconhecer o conceito de “pobreza de mobilidade” e integrar essa noção na tomada de decisões.