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A Ferrari celebra 70 anos de história

| Revista ACP

Estava-se em 1947 quando Enzo Ferrari batizou o primeiro carro com o seu nome: um 125 S que não teve grande sucesso.

A Ferrari fez 70 anos. Apesar da história da marca ter iniciado em 1939, foi oito anos depois que Enzo Ferrari apresentou o primeiro carro com o seu nome: o 125 S.

Equipado com motor V12 com 1500 cc, este modelo viria a revelar-se “um falhanço promissor” nas palavras do seu criador, ao abandonar o circuito de Piacenza, a 11 de maio do mesmo ano, com um problema na bomba de água. Mas uns dias depois regressou à competição vencendo o Grande Prémio de Roma, completando as 40 voltas ao circuito (136,7 km) à média de 88,5 km/h.

Como na época, os carros de competição eram desmontados e transformados, não existe nenhum dos 125 S originais, mas em 1987, quando a Ferrari celebrou os 40 anos com a apresentação do F40, surgiu a ideia de realizar um modelo com base em todos os planos originais, guardados em Maranello.

Esta réplica original, que implicou mais de 14 mil horas de trabalho pela equipa liderada pelo engenheiro Gianni Sighinolf, junta-se às comemorações que a marca da Cavallino Rampante vai organizar durante este ano através de uma série de eventos em 60 países, com o ponto alto dos festejos a realizar-se no fim-de-semana de 9 e 10 de setembro, em Maranello.

As comemorações incluem ainda exposições e reuniões, além da exposição "Driving with the Stars" patente no museu Enzo Ferrari, recordando personagens mediáticas de todos os tempos que não resistiram ao fascínio da Ferrari como é o caso de Jean-Paul Belmondo, Luciano Pavaroti ou Gordon Ramsay.

No ano passado, a Ferrari era a 332ª marca mais valiosa do mundo, atrás de fabricantes como a Porsche, Audi, Ford e Toyota, e também não figurava entre as 10 marcas de carros mais valiosas, ocupando o 19º lugar. O facto de ser uma marca de luxo de produção limitada que não capitaliza em termos monetários o seu real valor explica este posicionamento no ranking, embora em 2012 fosse considerada a mais poderosa de todas as marcas, mais ainda que a Apple ou a Coca-Cola.

Números à parte, a própria Ferrari também não está muito interessada em inverter a situação uma vez que o seu capital reside em larga medida no símbolo que representa em todo o mundo e isso é um valor que não se mede em cifras.

De mecânico a dono da Ferrari

A paixão pelo desporto automóvel chegou cedo para Enzo Anselmo Ferrari, quando tinha apenas dez anos e foi uma visita ao Autódromo de Bolonha que lhe despertou a paixão pela competição. Aliás este era um dos seus três sonhos na infância: ser tenor de opereta, jornalista desportivo ou piloto de automóveis.

Mas o percurso de Enzo Ferrari, nascido em Modena a 18 de fevereiro de 1898, iniciou-se por outros trilhos até concretizar o seu sonho, trabalhando primeiro como mecânico até ao início da I Guerra Mundial, altura em que entrou na Construzioni Meccaniche National, como piloto de testes. Não foi um piloto notável mas retiraria dessa experiência muitos ensinamentos que lhe viriam a ser úteis no futuro, enquanto construtor.

Em 1929 criou a Scuderia Ferrari, a divisão da Alfa Romeo para a competição permanecendo ligado à casa milanesa até 1939. Quatro anos depois fundou a Auto Avio Construzioni, transferindo a fábrica para Maranello uma pequena aldeia nos arredores de Modena.

Autodidata em mecânica, recebeu em 1960, da Universidade de Bolonha, o título de Doutor “honoris causa” em Engenharia, e mais tarde, em Física. Ganhou do governo italiano o título de Comendador. Enzo Ferrari morreu em Maranello com 90 anos no dia 14 de agosto de 1988, tendo obtido 19 vitórias em Le Mans e nove títulos na Fórmula 1.

Sendo esta uma marca nascida para o desporto automóvel, na década de 40 Enzo Ferrari ficou dividido entre os carros de competição e os de turismo com o primeiro modelo deste segmento a ser lançado em 1948, um Ferrari 166 Inter Coupé, produzido até 1950.

Os anos 50 e 60 foram, de facto, o período áureo da marca italiana no que toca à produção de modelos desportivos com alguns dos melhores pilotos nacionais a competirem com diversos modelos. Foi o caso de Casimiro de Oliveira que iniciou a carreira desportiva do Ferrari 750 MM em 1955, no Grande Prémio do Dakkar no Senegal, mas também Vasco Sameiro no V Grande Prémio de Portugal disputado no Circuito da Boavista ou, ainda, António Peixinho que correu no VII Grande Prémio de Angola, em 1964, ao volante de um 250 GTO, sem esquecer também o 275 GTB celebrizado por Aquiles de Brito, no Circuito de Montes Claros em 1965.

Nos modelos de turismo, o Ferrari Dino 246 com motor V6, produzido entre 1968 e 1976 está ligado a um triste episódio que marcaria para sempre a vida do fundador da marca. Foi construído para homenagear Alfredo Ferrari, filho de Enzo Ferrari, mais conhecido como Dino que morreu precocemente aos 26 anos de doença muscular degenerativa, em 1956. Este modelo foi também o primeiro da marca a ser produzido em grande número, com vista a introduzir no mercado um desportivo a um preço mais acessível. O Ferrari Dino 246 foi na época elogiado pelas suas qualidades em termos de condução e design inovador.

A origem do Cavallino Rampante

Reza a história que a versão original do símbolo do cavalo preto empinado encontrava-se exposta no avião de um dos ases italianos da aviação na I Guerra Mundial, Francesco Baracca, que morreu em combate. Foi a mãe do aviador que sugeriu a Enzo que colocasse o "emblema" nos seus automóveis para lhe dar sorte, o que veio a acontecer em 1951 quando pela primeira vez uma Ferrari venceu uma competição a um Alfa Romeo. Mas já na versão como a conhecemos ligada à marca, com o cavalo sobre fundo amarelo, a cor da cidade de Modena.

Outra das imagens de marca da Ferrari é a sua cor “rosso corsa” ou vermelho de corrida, utilizada a partir dos anos 20 por imposição da entidade que mais tarde viria a ser denominada FIA e que na época obrigava as escuderias italianas a usarema a cor vermelha, as francesas o azul, as alemãs o branco, as inglesas o verde e as nacionais o vermelho e o branco.

Enzo Ferrari que dividia o tipo de compradores dos seus carros em três categorias – o cliente desportivo, que até pode querer participar em corridas, o cinquentão que dá a si próprio um presente, cumpre um sonho de infância e celebra a sua ascensão social e o exibicionista que nada percebe de mecânica e que compra um Ferrari como quem compra um “casaco de peles” - faleceu aos 90 anos de idade pouco depois do lançamento do F40, um dos modelos mais marcantes na história da marca.

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